Refúgio Biológico tem pelo menos oito espécies de abelhas sem ferrão
As chamadas meliponíneas desempenham um papel fundamental na conservação da biodiversidade da região.
Oito espécies de abelhas sem ferrão já foram identificadas no hábitat do Refúgio Biológico Bela Vista, da Itaipu Binacional. Elas são nativas do Paraná e algumas também de outras regiões do Brasil e países da América do Sul. Uma dessas espécies, a Abelha Limão-Lestrimelita chacoana, foi registrada pela primeira vez no País, de forma consistente, a partir desse levantamento.
Também conhecidos como meliponíneos, essas abelhas possuem um papel fundamental para a manutenção dos ecossistemas, pois fazem a polinização das plantas. Uma curiosidade é que essas espécies têm, sim, ferrão, mas atrofiado, e que, portanto, não conseguem usá-lo para defesa.
O levantamento no Refúgio Biológico foi desenvolvido de outubro de 2021 a abril de 2023, por meio de uma parceria entre Itaipu Binacional, Parque Tecnológico Itaipu (PTI), Embrapa Florestas e Universidade da Integração Latino-Americana (Unila), dentro do projeto “Diagnóstico e conservação da fauna de Hymenoptera em áreas naturais da Itaipu Binacional, com ênfase em espécies da tribo Meliponini”.
As melipolíneas desempenham um papel fundamental na conservação da biodiversidade da região. Crédito: Escola Internacional para Sustentabilidade (@eisustentabilidade)
O supervisor da iniciativa pela Itaipu, Edson Zanlorensi, explicou que as equipes estabeleceram protocolos de avaliação, tombamento, identificação e registro de vouchers de todas as espécies de abelhas registradas em campo na área do Refúgio. “Amostras de todas as espécies encontradas nos ninhos naturais, nas colônias capturadas, nas iscas artificiais e nas colônias instaladas em caixas térmicas foram coletadas, organizadas e identificadas conforme a taxonomia”, disse.
Resultados
Essas informações foram armazenadas na coleção entomológica da Unila, que reúne amostras das espécies coletadas pelos pesquisadores da instituição. “Esse conhecimento é fundamental para preservar essas espécies e, consequentemente, para a conservação da biodiversidade no Refúgio Biológico e em nossa região. Também tem grande importância, por exemplo, para subsidiar outros trabalhos de pesquisa, para a educação ambiental e capacitação técnica”, afirmou Guilherme Schnell, pesquisador da Embrapa Florestas e doutor em Ciências Biológicas.
O professor pesquisador da Unila, Fernando César Vieira Zanella, doutor em Entomologia, ressaltou que a pesquisa viabilizou o inventário da diversidade de abelhas sem ferrão e sua distribuição no espaço do Refúgio Bela Vista, possibilitando reconhecer o valor da área como abrigo para essas abelhas.
“O relativamente grande esforço de amostragem, especialmente de ninhos, permitiu ampliar o plantel do meliponário de Itaipu, que tem por finalidade a educação ambiental e o turismo, e serve de referência para a amostragem em outras áreas da região”, comentou Zanella.
A analista ambiental do PTI, Flavia Rodriguez, enfatizou a sinergia entre as instituições envolvidas e que esse tipo de iniciativa contribui com a consolidação da missão do Parque, que busca “transformar conhecimento e inovação em bem-estar social e, neste caso, contribuir com o entendimento das espécies que compõem uma parte do território e seus serviços ecossistêmicos”.
Manejo e proteção
A iniciativa estabeleceu também protocolos de manejo das abelhas sem ferrão e desenvolveu um módulo protetor para as caixas das espécies, para permitir a instalação de colônias em áreas abertas. Esses módulos protegem as abelhas da ação de predadores, como macacos, quatis, gambás e teiús, entre outros.
De acordo com Guilherme Schnell, pesquisador da Embrapa Florestas, essa iniciativa também beneficia as comunidades próximas, uma vez que contribui para a manutenção dessas espécies na área de entorno. “Existe grande interesse na criação das abelhas e o Refúgio Biológico tem um grande potencial para ser um espaço de referência e difusão não apenas de técnica, como também de material vivo sendo mantido no ambiente da Itaipu”, disse Guilherme.
Atualmente, mais de 100 módulos protetores estão instalados na área do Refúgio Biológico Bela Vista.
Confira as espécies identificadas:
Borá - Tetragona clavipes
Jataí - Tetragonisca fiebrigi
Guiruçu - Schwarziana quadripunctata
Canudo - Scaptotrigona depilis
Arapuá - Trigona spinipes
Mirim Droryana - Plebia droryana
Mirim Nigriceps - Plebeia nigriceps
Abelha Limão - Lestrimelitta chacoana. Este foi o primeiro registro desta espécie no Brasil.